Em Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, a sociedade foi perfeitamente ajustada para que ninguém precisasse pensar. O entretenimento raso substituiu a reflexão, a informação foi reduzida a conteúdos fáceis de engolir, e qualquer tentativa de questionamento foi anestesiada por doses generosas de prazer momentâneo e instantâneo. Parece até familiar essa descrição, não?
No Brasil atual, a ignorância tornou-se um motivo de orgulho. Não basta desconhecer os fatos; é preciso celebrá-los publicamente. Vivemos em uma era onde estupidez e alienação andam de mãos dadas. O ódio substituiu o diálogo, e o pensamento crítico virou pecado imperdoável.
Assim, o Brasil segue firme na sua missão de provar que a ignorância não é apenas uma condição, mas um projeto de nação. Afinal, quem precisa de pensamento crítico quando se tem "influencers" que flertam com jogos de azar, fazem apologia ao crime, glorificam o uso de drogas e transformam a ignorância em uma tendência nas redes sociais?
Vivemos numa época em que desprezar o eticamente correto é uma escolha coletiva. Ler, pensar, treinar e manter hábitos saudáveis exigem esforço, é mais confortável abraçar narrativas prontas lideradas por figuras idolatradas. O resultado? Pessoas coadjuvantes de suas próprias vidas.
E não pense que a polarização política é a única causa desse fenômeno. Ela é apenas um sintoma. O verdadeiro problema é que nos tornamos uma sociedade onde a mediocridade é festejada e a inteligência criminalizada. Quem lê é "chato"; quem escreve é "elitista"; quem tem cultura é "arrogante". Seguimos abraçando a mediocridade como uma identidade nacional.
De um lado, temos um líder mentiroso e manipulador que se vende como trabalhador, pobre e oprimido, mas viaja pelo mundo usufruindo uma vida de sheik em hotéis de luxo. Tudo bancado pelo povo que, em vez de se indignar, o aplaude e o chama de "pai dos pobres" — ironicamente correto, já que em seu governo a pobreza sempre aumenta. Do outro lado, um adversário grosseiro que finge uma simplicidade de carmelita, apesar dos milhões acumulados na conta e salários mensais de cinco dígitos. Mas seu eleitorado, devoto e fervoroso, faz questão de tirar dinheiro do próprio bolso para o "pobre homem".
E quem paga a conta é o cidadão comum, que esqueceu como questionar devido a um sistema educacional voltado exclusivamente para passar no Enem. Como em Huxley, a verdade é menos importante do que a ilusão reconfortante de estar sempre certo, de acreditar que seu lado é sempre o herói. Enquanto isso, o país desmorona. Mas quem se importa? O próximo jogo do Brasileirão começa logo, e a nova camisa da Seleção Brasileira precisa ser escolhida com urgência, afinal, após um "vazamento" cuidadosamente planejado por uma equipe de marketing, temos a missão de defender o Brasil do "comunismo".
No fim, o Brasil não precisa de um governo autoritário para manter a população sob controle; o próprio povo já faz esse trabalho. Quem questiona é rotulado como "isentão", enquanto quem segue cegamente o rebanho é visto como "defensor da democracia". Os verdadeiros beneficiários dessa situação continuam enriquecendo, comemorando em jantares caros em países estrangeiros enquanto verificam seus saldos bancários em paraísos fiscais.
Se esse artigo parece exagerado, reflita um instante sobre o quanto você tem sido vítima ou cúmplice da falta de questionamento. A ignorância prospera onde a reflexão é silenciada. Não permita que decidam por você. Busque saber mais, pergunte, questione. A mudança começa com quem escolhe pensar.
Provérbios 1:7
